
Não me vou aqui alongar sobre o Centro de Corte e Fabrico. Considero-o um erro. Logo pelo facto de ter sido a autarquia a suportar (apesar dos fundos comunitários) os encargos inerentes à construção e ao equipamento. Depois, pela forma encontrada para a exploração, entregando-a a uma cooperativa, sabendo de antemão que existem produtores no concelho que não são sócios da cooperativa. Será que esses produtores não-associados não têm o mesmo direito de produzir os enchidos tradicionais nas mesmas condições que os outros? Não haverá aqui discriminação de uns em relação aos outros? O que farão agora esses produtores não-associados? Ver-se-ão obrigados a tornarem-se sócios da cooperativa ou deixarão de poder produzir os seus enchidos… Creio que, nestas condições, favoreceu-se a existência de um monopólio na produção dos enchidos.
O importante é que Almeirim passará a ter enchidos tradicionais certificados e, por conseguinte, poder-se-à avançar para a certificação da Sopa de Pedra. Uma decisão importante que, como vem sendo habitual neste concelho, peca por tardia…
Convém recuar uns bons e largos anos para se perceber a forma displicente como os nossos autarcas trataram a questão da certificação dos enchidos tradicionais. Esse processo, importantíssimo para a economia local, vai ser iniciado agora com, pelo menos, 14 anos de atraso. Sim!!! 14 anos!!!
A Portaria n.º 430/93, de 24 de Abril (portaria conjunta dos ministérios da Agricultura, Comércio e Turismo e do Ambiente e Recursos Naturais), criou as “marcas colectivas «Chouriço de carne tradicional de sopa de pedra», «Farinheira tradicional da sopa de pedra» e «Morcela tradicional da sopa de pedra» para os enchidos tradicionais destinados à preparação da «sopa de pedra» que sejam produzidos na área do concelho de Almeirim e que obedeçam às condições de fabrico e características prevista no anexo[1] à presente portaria.” Com a publicação deste diploma legal, o governo de então (último governo do Professor Cavaco Silva) abriu as portas para a certificação dos enchidos. A autarquia decidiu mantê-las fechadas por uns bons anos.
E é engraçado ver que, durante os últimos catorze anos, os principais protagonistas da vida política autárquica foram sempre os mesmos: o Partido Socialista e o actual Presidente de Câmara. E que tiveram sempre uma atitude relaxada para com o problema, do estilo «deixa estar, que um dia isto há-de ser resolvido». Aliás, como é seu apanágio.
A Câmara só começou a agir quando os talhantes foram alvo de pesadas coimas por parte da entidade fiscalizadora antecessora da ASAE, pressionando o Presidente da Câmara para que este actuasse, na defesa dos interesses dos talhantes e da preservação dos enchidos.
É claro que a pressa nunca foi amiga da perfeição. O que poderia ter sido feito ao longo dos anos, com a calma e a ponderação devidas, foi realizado em menos de metade desse tempo, de forma atabalhoada.
Ainda se cai no erro de prometer o que não se pode cumprir. Então o Presidente da Câmara, com toda a sua experiência de 18 anos à frente dos destinos de Almeirim, não sabe que qualquer propriedade pública não pode ser dada, arrendada, concessionada a um privado sem a abertura dum concurso público? Com esta infantilidade, poderia ter criado um grave problema. Felizmente, alguém com sensatez (e com muita benevolência) alertou para a grave irregularidade que se iria cometer.
Posto isto, será que vamos esperar mais 14 anos para a certificação da Sopa de Pedra???
[1] Este anexo estipula as condições a que terão de satisfazer os enchidos tradicionais de «sopa de pedra», nomeadamente os ingredientes, os condimentos, os formatos e as dimensões e o invólucro.
1 comentário:
Não concordo lá muito com o post, mas andando que isto ainda vai sendo uma democracia.Boa semana
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