terça-feira, 23 de setembro de 2008

[150] Almeirim e o aproveitamento das marés

A propósito desta notícia, recordo o texto escrito por mim de Maio de 2004 e publicado na rúbrica "Pensar Almeirim" no jornal "O Almeirinense", acerca do inventor almeirinense Agnelo Gonçalves David.




«Uma justa e singela homenagem
Estamos em 2004. Comemorámos os trinta anos do 25 de Abril, os 50 anos da inauguração da Praça de Toiros de Almeirim e da primeira actuação da Gente Miúda, para além de outros aniversários das colectividades locais. Mas, com esta azáfama própria de quem quer comemorar tudo, acabamos por nos esquecer de algo.

Foi em Maio de 1974, há trinta anos atrás, que um almeirinense chamado Agnelo Gonçalves David patenteou o seu invento, o Turbo-Gerador Ondo-Motriz.

Pessoa bastante observadora e com espírito inventivo, Agnelo David constatou, numas férias em Peniche, que seria possível aproveitar as ondas do mar para produzir energia eléctrica. Para além daquelas qualidades Agnelo David era, também, muito determinado. Logo colocou em prática o que tinha dentro da sua cabeça, construindo pequenos modelos que foram, posteriormente, apresentados a entidades ligadas à energia e em exposições nacionais e internacionais.

O seu invento, para quem não saiba, e segundo as palavras dele na Revista Electricidade n.º 135, “
aproveita a acção mecânica do afluxo e refluxo da ondulação para provocar a compressão e depressão numa câmara de ar existente dentro de uma estrutura fixa; a acção pneumática resultante é aproveitada para accionar a turbina. (…) Nestas condições o afluxo e refluxo da ondulação actuam como um pistão líquido, provocando a compressão e a depressão na câmara de ar. A resultante acção produz um escoamento de ar de sentido alternado localizado num respiradouro circular, de dimensão mais reduzida do que a câmara de ar e inserido na parte superior da estrutura, ficando assim aquela em comunicação com o ar exterior. É no respiradouro que se ajusta a turbina-geradora que (…) é accionada por fluxos de ar diametralmente opostos. Por tal motivo a sua concepção exigiu especial cuidado (…) uma vez que ela deve ter um sentido único de rotação, sendo perfeitamente irreversível. Este objectivo foi conseguido com êxito, tanto mais que essa turbina funciona sem válvula.


Para um leigo nesta matéria, a explicação é sem dúvida, um pouco complicada. No entanto, o que interessa é que este invento de Agnelo David foi galardoado com a Medalha de Ouro e o Prémio Especial da Cidade de Genève em 1975, para além de outros prémios conseguidos.


Ajudas a este projecto, teve poucas. As instituições oficiais não estavam para aí voltadas. A protecção do ambiente e da qualidade de vida e as energias alternativas não eram temas interessantes para os governos daquela altura. As outras foram de amigos seus que contribuíram para que não lhe faltasse motivação.

Passados que são trinta anos, Portugal esqueceu-se de Agnelo David. Surgem notícias do aproveitamento da sua invenção por outras pessoas e as entidades oficiais não se importam com a “usurpação” de um invento patenteado e nada fazem para impedir que tal aconteça, como refere Manuel Botas Constantino no seu artigo “
Do passado ao presente”, publicado neste jornal em 15 de Dezembro de 2000: “O «Correio da Manhã» de 6 do corrente [Dezembro de 2000] noticia que o Eng. Civil Virgílio Marques Preto (…) inventou uma unidade de aproveitamento da energia das ondas do mar e sua reconversão em energia eléctrica feita através de uma turbina marítima. A ideia do invento surgiu em Março de 1998 e em Novembro do mesmo ano foi registado o pedido de patente. (…) Nas palavras do próprio inventor «trata-se de uma inovação a nível mundial.
»”.

Agnelo David faleceu no dia 04 de Dezembro de 1991 sem conseguir ver o seu invento implementado. Em 17 de Fevereiro de 1992, o executivo camarário decidiu dar o seu nome àquela pequena rua que liga a Rua Bernardo Gonçalves à Praça Lourenço de Carvalho (antigo Parque das Laranjeiras). Doze anos depois, os almeirinenses (porventura muitos) não têm conhecimento da existência daquela rua com o nome de Agnelo David. Porque há doze anos que aquela rua espera por uma placa toponímica identificativa! Julgo que não será pedir muito. Apenas que no ano em que se cumpre o 30.º aniversário do registo da patente do seu invento, se preste uma justa e singela homenagem a Agnelo Gonçalves David, colocando a respectiva placa naquela rua: “Agnelo Gonçalves David – Inventor Almeirinense (1934 – 1991)”!»



1 comentário:

Pati disse...

olá!

realmente sabia que havia um senhor em Almeirim que tinha inventado um objecto que gerava energia (electricidade no caso) através da oscilação das marés... não sabia era o seu nome...
obrigado por lembrares!
nesta terra esquece-se muito...
abraço!