quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Competente, zeloso e empenhado

Há uns anos atrás, a Câmara Municipal de Almeirim (e, muito provavelmente, a maioria das câmaras municipais deste país), tinha o hábito de propor à Assembleia Municipal a alteração da posição remuneratória dos funcionários que se iam aposentar, dando como razões, entre outras, a forma competente com que o funcionário tinha desempenhado as suas funções. Com esta medida, o executivo municipal ficava bem visto aos olhos dos trabalhadores agora aposentados, pois estes subindo de escalão remuneratória, iriam receber um pouco mais nas suas pensões. Por outro lado, este aumento não teria qualquer implicação para o orçamento municipal, já que o mesmo era pago pela Caixa Geral de Aposentações.

Lembro-me de, nas sessões onde se discutiam estas propostas, haver sempre uma voz discordante do politicamente correcto. Não vontando contra, o então deputado municipal pelo PSD Aquilino Fidalgo, funcionário público, justificava a sua abstenção pelo facto da sua entidade patronal lhe pagar o vencimento para fazer o seu trabalho de "forma competente" e que essa era a sua obrigação enquanto trabalhador.

Vem esta história a propósito da notícia hoje publicada na edição online de "O Mirante" sobre a decisão da Governadora Civil de Santarém decidir aumentar quatro funcionárias, justificando com "a forma competente, atenta e empenhada como trabalhador em apreço coordenou e acompanhou (...)", "uma forma de reconhecer o zelo", a "postura atenta e empenhada como o trabalhador em apreço captou e absorveu os ensinamentos recolhidos".

Não serão estas obrigações de todo o trabalhador para com a sua entidade patronal? Esta não lhe paga para ser competente, zeloso, atento e empenhado? Provavelmente sim, mas no sector público criou-se (infelizmente) esta imagem negativa de que ninguém é competente, zeloso e empenhado e os que o são devem ser distinguidos dos restantes. Nada de mais errado...

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